Pedir é se expôr ao não
- Janaina Canova
- 19 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Quem de nós nunca sentiu vergonha, medo e insegurança antes de pedir algo?

Seja uma hospedagem inesperada, um pedaço do sorvete de um amigo ou ainda um abraço em um momento de necessidade. Ao pedir expomos nossos medos, mostramos nossos desejos e necessidades. Ao solicitar, precisamos demonstrar nossa humanidade, pois as necessidades são comuns a todos os seres humanos, mas nem sempre precisamos da mesma coisa, ao mesmo tempo. Sendo assim, pedir é um ato de abnegação, de fragilidade e de abertura ao outro. Demonstração de que não somos autossuficientes, mas que vivemos em uma teia complexa e delicada de relações humanas.
Para pedir, temos que nos conectar com o outro, e de alguma forma, demonstrar a gratidão por aquele que nos atende. O pedido acaba se tornando uma troca de vivências, pois envolve também aquele que recebe nosso pedido.
Quando pedimos, acreditamos, ainda que de forma inconsciente, que somos merecedores daquilo que receberemos. E se esse pedido é atendido de forma satisfatória, não nos sentimos envergonhados ou inferiores. O ato de receber, eleva nossa autoestima, nos faz sentir vistos, valorizados e importantes.
Aquele que atende, também se sente bem, pois percebe que o outro confiou a ele suas necessidades internas e quem ele é.
Mas para isso, nosso pedido tem que ser viável, justo e, porque não, empático? Não posso pedir algo sabendo que isso irá prejudicar aquele que irá me satisfazer. É preciso que a conexão entre ambos seja verdadeira a ponto de trazer essa realização mútua. Só dessa forma essa será uma troca justa. Uma forma de, como nossa mãe dizia, “uma mão lavar a outra”. Se acaso, não for dessa forma, a outra parte deve saber de antemão que é um pedido sem retorno, pois não terei condições de retribuir.
Ao comunicar um pedido ou necessidade é essencial ter claro, em primeiro lugar para si mesmo, qual será a forma de retribuição que poderemos dar ao outro. Muitas vezes, apenas um muito obrigado, dito com sinceridade já vale muito. Em outras, é preciso oferecer mais.
Também é preciso estar confiante e seguro para ouvir um simples “não”. A partir daí, questão resolvida, é hora de seguir em frente. O não deve ser uma possibilidade para quem solicita ou necessita algo que venha do outro.
Os pedidos nas relações familiares
Nas relações familiares, os pedidos são constantes. Desde coisas simples como cumprir com os combinados e rotinas, até mais complexos como estar mais presente e se dedicar mais aos estudos. Ocorre que, por ser uma relação que envolve hierarquia entre os pais e os filhos, muitas vezes não abrimos espaço para o não vindo da criança. O pedido perde sua característica principal, tornando-se uma ordem, o que altera significativamente a natureza do ato.
Quando peço esperando apenas sim como resposta, estou impondo ao outro minha necessidade e me fechando para o diálogo. E se o tema realmente não pode ser discutido, melhor trocar o discurso.
Ao invés de "Você pode escovar os seus dentes?", vale dizer: "Está na hora de escovar os dentes". Ponto final, sem espaço para contestações e questionamentos.
Se, ao contrário, estamos abertos a dialogar, os pedidos podem acontecer. "Você poderia arrumar o seu armário depois da aula?", "Não mãe, prefiro fazer isso amanhã logo cedo".
Não há certo ou errado. Tudo depende do contexto familiar, da idade e maturidade da criança, da capacidade de cumprir com combinados que essa criança tenha demonstrado anteriormente. As relações humanas não são estanques, elas de modificam e cabe aos adultos analisar quais situações são negociáveis.
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